Onde o céu é multiplamente estrelado e grande
A nossa personalidade será talhada pelo lugar onde nascemos? Seremos nós, mais um componente da natureza paisagística? Ela molda-nos de alguma forma?
Quando visito as minhas raízes, o lugar onde nasci, longe da azáfama Lisboeta, onde o céu é multiplamente estrelado e grande, acredito que Sim! As rochas grandes às quais chamamos fragas, as estevas, giestas, urze e rosmaninho que brotam onde não há terra, apenas pela sua força de viver e nascer se justifica o facto de ali estarem... Vendo a paisagem austera de fragas, montes e escarpas íngremes, Vejo-me! O ar seco e frio do inverno, quente e abafado do verão, Sou Eu... O cheiro do fumeiro está gravado na minha memória, o lume a crepitar na lareira, as panelas de ferro da avó... a comida forte regada de azeite, tudo isto fez de mim, forte e solta... O rio que corre lá no fundo do quintal, sempre me adormeceu, a água fria, pura e cristalina a correr num leito de pedras, onde os obstáculos são contornados. Não lutamos contra eles, contornamos, tornamos-nos elementos de força e persistência. Será que é isso que faz de mim determinada e teimosa? A força que possuo será moldada pela paisagem, que deve a sua beleza há força da austeridade? Ao facto de não ser possível moldá-la? O meu orgulho estará nas fragas que brotam, como se fossem plantadas nos altos, talhadas para superar a força do vento e das temperaturas? O verde dos meus olhos, serão as Oliveiras que firmemente plantam raízes e resistem séculos? A doçura serão as cerejas? A fragância será o corpo do vinho?
Não é um hino a trasmontes, não é um hino ás raizes espanholas nem portuguesas... são saudades daquilo que me moldou... o olhar azul vivo do meu querido avô António, a doçura e brincadeira do avô Anibal, e a teimosia e cozinhados da avó Ana.